1. Coordenação
Global
A coordenação
global diz respeito à atividade dos grandes músculos e depende da capacidade de
equilíbrio postural do indivíduo.
Através da
movimentação e da experimentação, o indivíduo procura seu eixo corporal, vai se
adaptando e buscando um equilíbrio cada vez melhor. Conseqüentemente, vai
coordenando seus movimentos, vai se conscientizando de seu corpo e das
posturas.
Quanto maior o
equilíbrio, mais econômico será a atividade do sujeito e mais coordenadas serão
as suas ações.
A coordenação
global e a experimentação levam a criança adquirir a dissociação de movimentos.
Isto significa que ela deve ter condições de realizar múltiplos movimentos ao
mesmo tempo, cada membros realizando uma atividade diferente, havendo uma
conservação de unidade de gesto.
Exemplo: quando
uma pessoa toca piano, a mão direita executa a melodia, à esquerda o
acompanhamento e o pé direito à sustentação. São três movimentos diferentes que
trabalha junto para conseguir uma mesma tarefa.
2. Coordenação
Fina e Óculo-Manual
Coordenação fina
diz respeito à habilidade e destreza manual e constitui um aspecto particular
da coordenação global.
Só possuir uma
coordenação fina não é suficiente. É necessário que haja também um controle
ocular, isto é, a visão acompanhando os gestos da mão. Chamamos isto de
coordenação óculo-manual ou viso-motora.
Exemplo: Escrita.
O desenvolvimento
da escrita depende de diversos fatores:
· Maturação geral do sistema nervoso;
· Desenvolvimento psicomotor geral;
· Coordenação global do ato de sentar;
· Desenvolvimento da motricidade fina dos dedos da mão;
· Dissociação e controle dos movimentos;
· Controlar a pressão gráfica exercida sobre o lápis e o
papel, para alcançar maior destreza e conseqüentemente maior velocidade no
movimento.
Portanto, a
escrita implica, em uma aquisição de destreza manual organizada a partir de
certos movimentos, a fim de reproduzir um modelo.
3. Esquema
Corporal
A criança
percebe-se e percebe as coisas que a cercam em função de seu próprio corpo.
Portanto, o desenvolvimento de uma criança é o resultado da interação de seu
corpo com os objetos de seu meio, com as pessoas com quem convive e com o mundo
onde estabelece ligações afetivas e emocionais.
O corpo deve ser
entendido não somente como algo biológico e orgânico que possibilita a visão, a
audição, o movimento, mas é também um lugar que permite expressar emoções.
Esquema corporal
– resulta das experiências que possuímos, provenientes do corpo e das sensações
que experimentamos. Não é um conceito aprendido e que depende de treinamento.
Ele se organiza pela experienciação do corpo da criança. É uma construção
mental que a criança realiza gradualmente, de acordo com o uso que faz de seu
corpo.
Um esquema
corporal organizado, portanto, permite a uma criança se sentir bem, na medida
em que seu corpo lhe obedece, em que tem domínio sobre ele, em que o conhece
bem, em que pode utilizá-lo para alcançar um maior poder cognitivo.
A criança deve
ter o domínio do gesto e do instrumento que implica em equilíbrio entre as
forças musculares, domínio de coordenação global, boa coordenação óculo-manual.
A descoberta pela
criança de sua imagem no espelho, se dá por volta de seis meses de idade.
Inicialmente a criança sente-se surpresa com a imagem que vê. Às vezes tenta
pegar seu reflexo, sorri para ele sem reconhecer que é sua própria imagem
refletida.
Um animal não
consegue ultrapassar a visão de sua imagem no espelho. Já a criança ao
contrário, usa o espelho como fator de conhecimento de si, raciocina, descobre
seu eu, desenvolve seu esquema corporal.
Segundo Dolto, a
criança cega que não tem oportunidade de se confrontar com sua imagem visual,
levaria a supor que teria dificuldade em assimilar o esquema corporal. Porém
para a autora, a criança cega conserva uma imagem inconsciente do corpo mais
rica, mas permaneceria inconsciente mais tempo do que nas crianças que
enxergam.
Etapas do esquema
corporal – proposta por Le Boulch
1ª
etapa: corpo vivido (até 3 anos de idade)
Corresponde à
fase de inteligência sensória motora de Piaget.
O bebê sente o
meio ambiente como fazendo parte dele mesma. À medida que cresce, com um maior
amadurecimento de seu sistema nervoso, vai ampliando suas experiências e passa,
pouco a pouco a diferenciar de seu meio ambiente. Nesse período a criança tem
uma necessidade muito grande de movimentação e através desta vai enriquecendo a
experiência subjetiva de seu corpo e ampliando a sua experiência motora. Suas
atividades iniciais são espontâneas.
2ª
Etapa: corpo percebido ou descoberto ( 3 a 7 anos)
Corresponde à
organização do esquema corporal devido à maturação da "função de
interiorização" que é definida como a possibilidade de deslocar sua
atenção do meio ambiente para seu próprio corpo a fim de levar à tomada de
consciência.
A função de
interiorização permite a passagem do ajustamento espontâneo, a um ajustamento
controlado que, propicia um maior domínio do corpo, culminando em uma maior
dissociação dos movimentos voluntários. A criança com isso, passa a aperfeiçoar
e refinar seus movimentos adquirindo uma maior coordenação dentro de um espaço
e tempo determinado.
Descobre sua
dominância e com ela seu eixo corporal.
O corpo passa a
ser um ponto de referência para se situar e situar os objetos em seu espaço e
tempo. Neste momento assimila conceitos como embaixo, acima, direita, esquerda
e adquire também noções temporais como a duração dos intervalos de tempo e de
ordem e sucessão, isto é, primeiro e ultimo.
No final dessa
fase, a criança pode ser caracterizada como pré-operatória, porque está
submetida à percepção num espaço em parte representado, mas ainda centralizado
sobre o próprio corpo.
3ª
Etapa: corpo representado (7 a
12 anos)
Nesta etapa
observa-se a estruturação do esquema corporal.
No início desta
fase a representação mental da imagem do corpo consiste numa simples imagem
reprodutora e é uma imagem de corpo estática. A criança só dispõe de uma imagem
mental do corpo em movimento a partir de 10/12 anos, significando que atingiu
uma representação mental de uma sucessão motora, com a introdução do fator
temporal.
Sua imagem do
corpo passa a ser antecipatória, e não mais somente reprodutora revelando um
verdadeiro trabalho mental devido à evolução das funções cognitivas
correspondentes ao estágio preconizado por Piaget de operações concretas.
Os pontos de
referência não estão mais centrados no corpo próprio, mas são exteriores ao
sujeito, podendo ele mesmo criar os pontos de referência que irão orientá-lo.
Perturbações do
esquema corporal
Crianças que não
tem consciência de seu próprio corpo podem experimentar algumas dificuldades
como insuficiência de percepção ou de controle de seu corpo, incapacidade de
controle respiratório, dificuldades de equilíbrio e de coordenação.
Elas podem
também, apresentar dificuldades em se locomover em um espaço predeterminado e
em situar-se em um tempo, pois o esquema corporal está intimamente ligado à
orientação espaço-temporal.
Uma criança com
grandes problemas de esquema corporal manifesta normalmente dificuldade de
coordenação dos movimentos, apresentando certa lentidão que dificulta a
realização de gestos harmoniosos simples, como abotoar uma roupa.
A criança se
confunde em relação às diversas coordenadas de espaço, como em cima, embaixo,
ao lado, linhas horizontais e verticais, e também não adquire o sentido de
direção devido a confusões entre direita e esquerda.
Uma perturbação
de esquema corporal pode levar a uma impossibilidade de se adquirirem os
esquemas dinâmicos que correspondem ao hábito visomotor e também intervém na
leitura e escrita.
Uma conseqüência
séria da falta de esquema corporal é o não desenvolvimento dos instrumentos
adequados para um bom relacionamento com as pessoas e como seu meio ambiente, e
pior ainda, leva a um mau desenvolvimento da linguagem.
4. Lateralidade
A lateralidade é
a propensão que o ser humano possui de utilizar preferencialmente mais um lado
do corpo que o outro em três níveis: mão, olho e pé. Isto significa que existe
um predomínio motor, ou melhor, uma dominância de um dos lados.
O lado dominante
apresenta maior força muscular, mais precisão e mais rapidez. É ele que inicia
e executa a ação principal. O outro lado auxilia esta ação e é igualmente
importante. Na realidade os dois não funcionam isoladamente, mas de forma
complementar.
Exemplo: quando
pregamos um prego em uma parede, a mão auxiliar segura o prego enquanto a
outra, com precisão e força muscular suficiente, bate o martelo.
A dominância
ocular pode ser percebida quando pedimos para a criança que olhe por um
caleidoscópio ou um buraco de fechadura. É preciso tomar muito cuidado ao afirmar
qual é a dominância ocular, pois, às vezes, um problema na vista pode mascarar
essa percepção.
Podemos observar
a dominância dos membros inferiores quando pedimos à criança que brinque de
amarelinha com um pé e depois com o outro. Verificamos então, qual o lado que
teve mais facilidade, isto é, qual apresentou mais precisão, mais força, mais
rapidez e também mais equilíbrio.
Se uma pessoa
tiver a mesma dominância nos três níveis – mão, olho e pé – do lado direito,
diremos que é destra homogênea, e canhota ou sinistra homogênea, se for o lado
esquerdo.
Se a criança
possuir dominância espontânea nos dois lados do corpo, isto é, executar os
mesmo movimentos tanto um lado como com o outro, o que não é muito comum, é
chamada de ambidestra.
Podem ocorrer,
alguns casos em que a criança contrarie essa tendência natural e passe a
utilizar a mão não-dominante em detrimento da dominante. Diremos que tem
lateralidade cruzada, quando usa a mão direita, o olho e o pé esquerdo ou
qualquer outra combinação.
Motivos que ocasionam
um desvio da lateralidade:
· Um acidente que provoque uma amputação ou uma paralisia no
lado dominante faz com que a pessoa possa a usar o outro lado.
· Podem ocorrer, casos em que esta mudança de prevalência
manual modifique-se por motivo de identificação com alguém ou por imposição dos
pais ou professores ou por motivo afetivo ou por qualquer outro.
Hipóteses sobre a
prevalência manual
Visão histórica
Havia um igual
número de destros e canhotos na idade da pedra. A supremacia da destralidade
aponta que, na idade do bronze, os camponeses tiveram que se adaptar a
ferramentas que não era mais feita por eles, mas por pessoas específicas. Outra
teoria aponta para as técnicas guerreiras pelas quais se ensinavam os homens a
pegar a espada ou a lança com a mão direita enquanto a esquerda protegia o
coração com o escudo.
Hereditariedade
Esta teoria tenta
explicar a referência lateral pela transmissão hereditária.
Hipótese da
dominância cerebral
Existe uma
dominância em um dos lados do cérebro, e que funciona de forma cruzada. Isto
quer dizer que, no destro, encontramos uma dominância do córtex cerebral
esquerdo; e no canhoto, o hemisfério cerebral direito controla e coordena as
atividades do lado esquerdo.
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